Revista Diáspora
Este artigo foi escrito por um colaborador convidado e reflete apenas as visões do autor.

À luz das atrocidades que Israel está atualmente realizando com impunidade em Gaza, nós, membros do corpo docente da Universidade Americana de Beirute, gostaríamos de expressar nosso total e incondicional apoio ao e solidariedade com o povo palestino.

Enquanto Gaza está sendo arrasada, tentativas de discutir a situação em curso como uma batalha entre duas nações beligerantes são errôneas, enganosas e moralmente vazias. Esse enquadramento apaga completamente a história da ocupação colonial na Palestina, visto que o Estado sionista foi construído pela limpeza étnica dos palestinos e sua expulsão forçada das suas terras e casas. Os palestinos sofrem com a violência e brutalidade do sionismo por mais de 75 anos: colonização, limpeza étnica, exílio forçado, assentamentos, prisões administrativas, racismo estrutural, humilhação cotidiana e aniquilação sistemática.

O movimento de resistência palestina tem tentado através de todos os meios pacíficos lutar pelos seus direitos por quase um século, desde protestos pacíficos como a Grande Marcha do Retorno em Gaza em 2018, a qual enfrentou uma repressão brutal pelas forças de ocupação, e campanhas como as do movimento de Boicote, Desinvestimentos e Sanções (BDS), o qual tem sido denegrida e atacada em muitos campi no Ocidente; até diplomacia e negociações de paz que têm falhado amplamente em prover uma solução digna para o povo palestino.

Enquanto líderes mundiais apoiam o ataque genocida do governo israelense em Gaza como “autodefesa”, o direito dos palestinos de se defenderem contra o seu colonizador, conforme a lei internacional, tem sido há muito tempo ignorada e vilificada. A lógica colonial normaliza a violência contra o colonizado desumanizando os palestinos para legitimar sua matança. A declaração do ministro de defesa israelense Yoav Gallant que os palestinos são “animais humanos” e que os israelenses devem tratá-los de acordo é um flagrante chamado ao genocídio. O apoio militar e político dos poderes ocidentais e seus aliados, particularmente os Estados Unidos, permite a violência genocida israelense. A propaganda da mídia ocidental lhe fornece cobertura moral ao mobilizar jargões orientalistas e islamofóbicos e espalhar desinformação para legitimar as atrocidades cometidas pelo Estado de Israel. Nesse contexto, todo discurso sobre uma transferência da população de Gaza para o Sinai, no Egito, é nada menos que a continuação da Nakba e significa mais uma expulsão dos palestinos de suas terras.

Como docentes da Universidade Americana de Beirute, nós condenamos a flagrante deturpação da história, a divulgação de desinformação, e a desumanização dos palestinos; e nós condenamos a decisão do presidente dos EUA de ajudar e instigar a tentativa de genocídio dos palestinos por Israel, e a cumplicidade dos Estados árabes na normalização da sua desapropriação. Nós também nos posicionamos em solidariedade com os colegas e estudantes nas instituições acadêmicas no Ocidente e nos territórios ocupados que estão sendo atacados, sancionados e acusados de antissemitismo ou crimes de ódio por vocalizarem seu apoio aos palestinos e a sua causa. A resistência palestina é uma luta contra o colonialismo e apartheid sionista. Enquadrar isso como antijudeu é uma estratégia usada para igualar antissionismo e antissemitismo, desejando calar os palestinos e seus aliados. Alinhados aos nossos colegas da Universidade de Birzeit, nós acreditamos que como acadêmicos e pesquisadores “nós temos que usar as nossas palavras, por mais fúteis que elas possam parecer em tais tempos críticos”. Nossas palavras hoje são claras: nos posicionamos em plena e incondicional solidariedade ao povo palestino até a sua libertação.

13 de outubro de 2023.

Para saber mais:

https://www.aub.edu.lb/plsc/SiteAssets/FUn%20Solidarity%20with%20Palestine%20EN.pdf

Sobre a autora:

Tradução: Helena de Morais Manfrinato Othman, doutora em Antropologia Social pela USP e atualmente pesquisadora associada do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP).
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