Por Bonnie McRae, 16 de junho de 2017
Bet Lahem Live é um festival anual de cultura organizado pela Holy Land Trust, em colaboração com o município e a província de Belém, o Ministério do Turismo e em parceria com o Greenbelt Festival do Reino Unido. Esse consórcio trabalha com a comunidade de Belém e com o comitê dos moradores da Rua Star Street desde 2013 para revitalizar a economia da Cidade Velha de Belém e prover informações sobre os aspectos culturais, históricos e políticos da região.
Revitalização da Star Street: Construção de um futuro melhor para a comunidade local
O Festival trabalha para reabilitar uma área específica da Cidade Velha: a Star Street. A Star Street já foi um vibrante centro de negócios, comércio e cultura da Palestina – abriga ateliês de artesanato e lojas comerciais. Antigamente, a Star Street recebia e atendia muitos visitantes internacionais durante a peregrinação à Terra Santa – por ocasião de suas visitas a Jerusalém e Belém — uma vez que a Star Street é historicamente considerada o caminho usado por Maria e José para chegar ao local do nascimento de Jesus. No entanto, devido à ocupação dos territórios palestinos por Israel — e, mais particularmente, ao muro do apartheid, construído em 2002 pelo governo de Israel — a Star Street perdeu quase totalmente seu status de vibrante centro cultural e comercial da comunidade de Belém. Visitantes internacionais que vêm a Belém não caminham mais pela tradicional rota para a Igreja da Natividade: a Star Street. Essa triste realidade impede a interação dos visitantes internacionais com a cultura palestina local e sua contribuição com a economia local de Belém.
A vida atrás dos muros
Belém está cercada de muros por todos os lados. Seres humanos diversos, cheios de vida, amor e criatividade, vivem atrás desses muros. Bet Lahem Live reúne pessoas de lugares próximos e de lugares distantes para vir e vivenciar diferentes culturas e crenças, em nome da paz. O Festival mostra ao mundo que há pessoas vivendo atrás daqueles muros, pessoas que celebram sua cultura, sua identidade e a vida – ao mesmo tempo em que clamam por justiça. Graças ao Bet Lahem Live Festival, espera-se que 30% das 98 lojas da Star Street que foram fechadas reabram todo ano para o Festival e que 5% delas permaneçam abertas depois do seu término. O Festival de 2014 atraiu investimentos para a rua, incluindo pelo menos três cafés, uma livraria, a Star Street Art Gallery, um mercado de produtores locais e outros. Quando trabalhamos em união, coisas aparentemente impossíveis tornam-se possíveis.
Um festival anual de criatividade, fé, cultura e justiça social
Além de revitalizar a economia local, o Festival convida artistas, músicos, performers e artesãos de todo o mundo para expor seus talentos. O Festival também abriga oficinas e cursos sobre diversos assuntos, entre eles empoderamento e justiça social, treinamento de líderes, desenvolvimento de estratégias para obtenção de paz e justiça, e diálogos inter-religiosos, proporcionando uma oportunidade única de troca de conhecimentos, metodologias, criatividade e expressão.
Programas e atividades que constituem o Bet Lahem Live:
- Performances musicais (com artistas locais e internacionais)
- Atividades culturais e artísticas
- Oficinas sobre a não-violência
- Apresentações religiosas
- Atividades comunitárias
- Passeios e elevação da consciência
- Justiça social
- Mercado de artesanato
No ano passado, 80 músicos de 10 bandas internacionais e 15 bandas locais, juntamente com mais de 70 bailarinos de todo o mundo, apresentaram-se no Bet Lahem Live. Um grupo de pessoas de todo o mundo foi reunido para compartilhar, ampla e profundamente, a fé, a cultura, a resistência não violenta, a transformação política e a santidade da vida.
As vozes palestinas estão sendo ouvidas, finalmente
Muitos turistas que vêm à Terra Santa passam um período de tempo limitado na Cisjordânia. E quando vêm, a maioria visita apenas Belém para ver os locais históricos e religiosos por algumas horas – como a Igreja da Natividade – e depois vão embora. Muitos viajantes internacionais não entram em contato com a cultura palestina local quando estão aqui, o que é uma pena, porque Belém é um dinâmico centro cultural da herança palestina. Os membros de nossa comunidade são muito generosos estão sempre prontos para receber os viajantes do mundo em suas casas para um café árabe, um chá (chai) ou até mesmo uma deliciosa refeição.
O Festival convida os visitantes internacionais a entrar em contato com a comunidade local. Said Zarzar, o diretor artístico do Festival, exorta, entusiasticamente, os visitantes internacionais a se juntarem à celebração:
“Venha aproveitar a vida. Não fique só nos passeios de ônibus pela Terra Santa, eles não mostram toda a realidade a você. Não dão a oportunidade de você nos encontrar. Por isso, convidamos você a vir celebrar a vida conosco, encontrar artistas palestinos, conhecer as mulheres da Star Street, experimentar a comida palestina, dançar e ouvir o que nossos corações têm a dizer. Dessa forma, você nos apoia, nos ajuda a fazer com que nossas vozes sejam ouvidas – vozes que pedem paz, igualdade, convivência pacífica – vindas do local onde Jesus nasceu, de trás dos muros. Venha para Belém em agosto, você vai gostar.”
A comunidade palestina da região sofre há 50 anos com a ocupação militar israelense. No entanto, os palestinos não estão pedindo piedade. Eles estão pedindo engajamento. Estão pedindo aos visitantes da Terra Santa para se encontrarem com eles, ouvirem suas histórias, seus corações – seus medos, sonhos e esperanças – e se juntarem a eles na busca por paz e justiça.
Bet Lahem Live contribui para fortalecer a identidade de Belém, tanto na região como no mundo. Quando os estrangeiros vêm e participam do Festival, eles realmente entram em contato com a cultura local. As vozes dos palestinos são finalmente ouvidas pelo mundo. Este festival anual desafia as comunidades locais e internacionais a agir para que seja possível vislumbrar um futuro ideal para Belém, assim como para a comunidade palestina em geral. Este evento serve como um modelo global de como conectar cultura e questões de justiça social. Afinal, não pode haver paz onde não há justiça.