Nós, pesquisadores e pesquisadoras do Núcleo de Estudos do Oriente Médio (NEOMUFF), manifestamos preocupação e repúdio aos ataques militares perpetrados pelo Estado de Israel contra o Líbano, que ocorrem desde 8 de outubro de 2023. Os ataques se intensificaram a partir de setembro de 2024, trazendo graves consequências à vida de civis locais e à soberania do Estado libanês.
A escalada de violência e intensificação dos bombardeios israelenses em diversas regiões do país, principalmente no sul, no Bekaa e na capital Beirute já provocou mais de 1000 mortes e 1 milhão de deslocados internos, de acordo com o governo libanês. Além disso, destaca-se a situação de insegurança e terror enfrentada pela população civil diante dos bombardeios diários em bairros densamente povoados, como os do sul de Beirute e os ataques mais recentes à Kola, região central da capital. Por fim, do ponto de vista econômico, embora ainda não seja possível estimar os impactos causados pelos ataques à infraestrutura do país e à interrupção da rotina de trabalho em diversas regiões, o futuro é desesperador para a população libanesa que enfrenta a maior crise financeira de sua história.
É importante destacar que essa não é a primeira vez que o exército israelense viola o direito internacional e os direitos humanos em território libanês. Em 1982, Israel invadiu o sul do Líbano e ocupou o país até o ano 2000, período marcado por uma série de atos de violência contra a população local. Um dos episódios mais trágicos foi a participação do exército israelense no massacre de palestinos em Sabra e Chatila ocorrido em setembro de 1982, resultando na morte de milhares de pessoas. Além disso, em 2006, durante a Guerra do Líbano, milhares de civis libaneses sofreram novamente com bombardeios e ataques aéreos que deixaram cerca de 1.200 mortos, a maioria dos quais civis, além de ferir e deslocar centenas de milhares de pessoas, agravando a crise humanitária e destruindo grande parte da infraestrutura do país.
A atual ofensiva israelense ao Líbano está inserida no contexto da guerra contra Gaza e o corrente genocídio da população palestina. Com os ataques militares ao Líbano, Israel pretende eliminar o Hezbollah como força política. As ações do Estado de Israel em busca de uma solução militar para um problema de natureza política infligem morte, sofrimento e destruição desmesurada à população civil libanesa, o que constitui claramente crime de guerra vis-à-vis à lei humanitária internacional.
Diante desse cenário, agravado pelo início de um ataque terrestre de Israel no sul do território libanês, reafirmamos que os direitos humanos e o direito internacional humanitário devem ser respeitados por todos os Estados e partes envolvidas em conflitos. É imperativo que as ações militares sejam substituídas por negociações políticas tendo como objetivo o fim da ocupação israelense dos territórios palestinos e a solução das questões territoriais e políticas entre Líbano e Israel.
Por fim, expressamos nossa solidariedade às vítimas civis do corrente conflito e à população libanesa que se vê diante de uma agressão militar e da destruição da infraestrutura essencial para a sua vida cotidiana. Como acadêmicos, continuaremos a trabalhar pela produção de conhecimento e pela preservação da dignidade humana. Urgimos que a Associação Brasileira de Antropologia se manifeste diante dessa grave violação do direito humanitário internacional e dos direitos humanos das populações palestina e libanesa.
Rio de Janeiro, 03 de outubro de 2024,
Núcleo de Estudos do Oriente Médio (NEOM/UFF)
Pesquisadores:
- Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto (coordenador/NEOM-UFF)
- Gisele Fonseca Chagas (vice-coordenadora/NEOM/UFF)
- Barbara Caramuru (NEOM/UFF)
- Daniele Regina Abilas (NEOM-UFF)
- Helena de Morais Manfrinato Othman (NEOM-UFF)
- Julio D’Angelo Davies (NEOM-UFF)
- Leonardo Schiocchet (NEOM-UFF)
- Liza Dumovich Barros (NEOM-UFF)
- Mirian Alves Souza (NEOM-UFF)
- Rodrigo Ayupe Bueno da Cruz (NEOM-UFF)Tiago Duarte Dias (NEOM-UFF)
Também assinam:
- Ana Paula Mendes Miranda (coordenadora/GINGA-UFF)
- Antonio Carlos de Souza Lima (Co-coordenador do Laced/MN e PPGA/UFF)
- Danny Zahreddine (coordenador/ GEOMM – PUC Minas)
- Francirosy Campos Barbosa (coordenadora/GRACIAS-USP)
- Francisco Freire (CRIA- FCSH NOVA)
- Kátia Sento Sé Mello (UFRJ)
- Laura Graziela Figueiredo Fernandes Gomes (PPGA/InEAC/NEMO- UFF)
- Lenin Pires (Coordenador LAESP/UFF)
- Luiz Fernando Rojo Mattos (Professor GAP/UFF)
- Marco Antonio da Silva Mello (coordenador/LeMetro – UFF)
- Maria Cardeira da Silva (CRIA/AZIMUTE- FCSH NOVA)
- Maria Victoria Pita (FFyL-UBA; CONICET-ICA)
- Murilo Sebe Bon Meihy (coordenador/AZIMUTE-UFRJ)
- Natália Helou Fazzione (Pagu-UNICAMP)
- Raquel Carvalheira (CRIA- FCSH NOVA)
- Roberto Kant de Lima (coordenador/INCT-InEAC – UFF)
- Rodrigo Chafareddine Bulamah (ICS-UERJ)
- Samira Adel Osman (coordenadora do LEOA-UNIFESP)
- Silvia Montenegro (CONICET-UNR)