Uma ideia: que tal um duelo entre opções de esfirra no Rio de Janeiro? Em comemoração à presença de Egito, Tunísia, Arábia Saudita e Marrocos na Copa, aproveitamos para revisitar o texto de Eduardo Boohrem e Taís Martins escrito em 2012, mas que ainda está bem atual. 

Vamos ao banquete:

1ª parada :: Camelo’s, Tijuca (Praça Saens Peña) ::
Foi o ponto de partida e por isso, o Camelo’s teve uma sorte e tanto: por ser o primeiro, os ânimos estavam inflados e os estômagos vazios. Todo mundo querendo provar que conseguiria passar bem pelo desafio, por isso, fizemos lá o maior número de pedidos.

A esfirra de carne ganhou muitos pontos com seu recheio super temperado, com um leve toque de noz-moscada. A louça da casa também era uma gracinha e conquistou as meninas, mas as vantagens do Camelo’s acabam aqui.

No geral, a massa das esfirras era mole. Além da de carne, comemos a de queijo branco e ricota com espinafre, ambas bem sem graça: pouco recheio, pouco sabor e ressecadas. Além dessas, pedimos a esfirra aberta de carne com cobertura de tahine, que era mais bonita do que saborosa. O molho em excesso mascarou o sabor da carne (que era bem temperada) e a massa folheada não combinou com a proposta.

 

2ª parada :: O Rei do Quibe, Centro (Saara) ::
A segunda parada do dia fugiu ao planejamento inicial. Antes que batam na gente e digam: “como vocês não foram n’A padaria árabe da Uruguaiana?”, avisamos que a intenção era essa. A Bassil, na Senhor dos Passos, há muito carrega a fama de ter a melhor esfirra do Rio, quiçá do Brasil. O renome do lugar não impediu que o destino interferisse e, quando chegamos à porta da loja de azulejos preto e branco, fomos informados sobre o fim das esfirras daquele dia. Uma pena, mas aproveitamos para conhecer uma lanchonete próxima, que se autoproclama “rei” no assunto.

O mais botecão dos lugares visitados, o Rei do Quibe investe em propaganda e preço baixo. O local peca por não ser convidativo, mas reflete bem o ambiente onde se insere. No meio da muvuca da Uruguaiana, salgados árabes são vendidos num balcão à beira da rua, junto de refrescos e coca de garrafinha em promoções bem abaixo do preço de mercado.

Pedimos uma esfirra de cada: carne, queijo e espinafre. Todas eram boas, sobretudo a massa, que era bem crocante. Os recheios se perderam pela pouca quantidade, mas a esfirra de queijo ganhou pontinhos do grupo. Se estiver de bobeira pelo Centro e a Bassil estiver fechada, não tenha medo de arriscar no Rei, o valor compensa.


3ª parada :: Rotisseria Sírio Libanesa, Largo do Machado ::
A melhor comidinha árabe da cidade, como eles gostam de dizer, foi a terceira parada do dia. Velha conhecida do grupo, desde o início foi considerada a favorita. Ao chegarmos na porta da Galeria Condor, demos de cara com o point árabe mais lotado da região.

O sucesso é enorme e a prova disso está no ponto de venda: a Rotisseria se divide em duas, cada uma em um corredor da galeria. De um lado, um ambiente mais moderno, com venda de sucos no enorme balcão e mesinhas para os que querem comer com calma. No outro, azulejos desbotados carregam a marca da geração passada. Como as cozinhas são independentes, existe até rixa de qual porta prepara o melhor salgado. Resolvemos não arriscar e fomos no lado mais tradicional.

Pedimos uma de cada: carne, queijo e verdura e, para beber, o famoso mate da casa (matão, para os íntimos) e um refresco de caju. É muito difícil explicar o porquê dessa esfirra ser tão gostosa, mas, sendo bem direto, eu diria que a massa é incrível, nem crocante nem molenga – todas sempre no ponto; o recheio de queijo é sem igual, tem sabor e não é nem um pouco ressecado (um lugar comum das esfirras que comemos por aí) e a de verdura, para os amantes dessa categoria, é simplesmente a melhor da cidade.

Por quê? Pelo diferencial. Ao contrário das demais, a verdura usada na Rotisseria não é o espinafre, e sim a acelga, mais azedinha e saborosa. E de lá saímos com a sensação de que um oponente como esse seria bem difícil de ser batido. (;

 

4ª parada :: Yalla, Leblon (Dias Ferreira) ::
Para não reclamarem dizendo que a disputa foi pouco eclética, desbravamos além do circuito tradicionalmente árabe em busca da alta gastronomia no assunto – um toque contemporâneo em meio ao tradicional. O Yalla é a versão fast food do mestre dos magos árabe, o Amir, de Copacabana.

Pronto para receber casais descolados da “zona sul A” da cidade (infelizmente, isso existe aqui no Rio), a portinha com apenas 6 mesas na calçada vive muito bem frequentada. O ponto forte do restaurante são as saladas árabes – sempre frescas! – e os sanduíches – bem servidos e saborosos -, mas a nossa fome era mesmo de esfirra. Acabamos encontrando a mais diferente do pedaço.

O tamanho dos salgados está diretamente relacionado ao tamanho da loja. No Yalla, só é possível comer esfirras em porções de 3, que são facilmente devoradas por uma só pessoa. Como estávamos na 4ª parada, aproveitamos a finésse da casa e pedimos apenas 2 porções: uma de berinjela e outra de carne.

Olha, confesso que o tamanho era tão diminuto quanto o sabor. Não há nada de errado com as esfirras do Yalla, só não são lá muito ricas em textura e temperos. São micro salgados, gigantes apenas no preço. Volto a repetir, não estamos aqui para colocar o Yalla para Cristo, mas, na comparação com os bares tradicionais, o salgadinho nosso de cada dia parece não pertencer à realidade do restaurante contemporâneo.

5ª parada :: Baalbek, Copacabana (Galeria Menescal) ::


16 esfirras depois, eis que chegamos ao final da nossa jornada. Para fechar a cruzada pela cidade, acabamos no espaço que, há mais de 50 anos, serve comida árabe na Galeria Menescal, um verdadeiro exemplo de tradição no assunto.

Tivemos uma baixa e ficamos apenas em 3, mas nada poderia abalar a nossa fome naquele momento. Na porta da galeria, um susto!, as grades da entrada anunciavam o fim antecipado do circuito, mas graças à nossa extensa negociação com o porteiro, conseguimos entrar e fazer os últimos pedidos do dia da Baalbek.

Como estava quase fechando, a esfirra de carne ficou pra outro dia (ficou mesmo: li muito sobre a fama dela), o que nos deixou de opção as de queijo e as de espinafre. E, nessa hora, algo que parecia impossível aconteceu: numa disputa ponto a ponto, a esfirra de verdura da Baalbek marcou um gol no último minuto da competição e virou o jogo conta a Rotisseria do Largo.

A foto acima entrega, o espinafre não entrou em campo sozinho, contou com o apoio de um refogado de sabor único até então, e com esse time levou o caneco de melhor esfirra da cidade para casa. Parabéns, Baalbek! E para fechar, claro, a sobremesa, afinal, nada deve parecer impossível de se comer. (:

Os muitos docinhos árabes ainda enfeitavam o balcão, o que os deixava ainda mais irresistíveis. Dentre as várias opções, pedimos o folheado de nozes com pistache, o aletria de nozes e outro de pistache, todos regados com mel árabe. Uma delícia!

Nesse momento, vocês devem estar se perguntando: “Ué, mas cadê o Beduíno?” A tão aguardada esfirra aberta do Beduíno teve que ser prorrogada para uma outra ocasião. O restaurante, que fica aberto aos sábados até as 17h e nos dias de semana até as 23h, estava excepcionalmente fechado.

Depois de gastar R$98 e ficar com a barriga bem cheia, nos despedimos desse dia tão saboroso. E, por favor, não nos levem tão a sério, a competição é só uma desculpa esfarrapadíssima para passar um sábado agradável com os amigos. Se quiserem descobrir qual é a sua esfirra favorita, convidamos você para percorrer a rota das arábias, ou quem sabe inventar o seu próprio percurso. E bom apetite!


 

Camelo’s Kebab e Fast Food Árabe

Rua Soares da Costa, 69 B – Tijuca
Tel. 3022-6300/3197-3315

Padaria Bassil
Rua Senhor dos Passos, 235 – Centro
Tel. 3970-1673

O Rei do Quibe
Rua Senhor dos Passos, 129 – Centro
Tel. 2224-4796

Rotisseria Sírio Libanesa
Largo do Machado, 29 – Ljs. 16 a 19, 32 e 33 (Galeria Condor)
Tel. 2557-2377 e 2205-2047

Yalla
Rua Dias Ferreira, 45 A – Leblon
Tel. 2540-6517

Baalbek
Av. N. S. de Copacabana, 664, lj 17 (Galeria Menescal)
Tel. 2255-457

Sobre os autores:

Eduardo Boohrem é publicitário e fundador do Clube Orgânico. Tais Martins é profissional de TV.
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