Por Ana Maria Raietparvar

A Revista Diáspora surgiu como uma necessidade. Em tempos de atentados, conflitos e guerras, é preciso ir além do senso comum e aproximar o “outro lado do mundo”. Esse movimento de tornar o exótico familiar revela que o outro pode estar mais próximo do que se acredita, tanto geograficamente – com os deslocamentos através de refúgio e dos movimentos migratórios, seja de brasileiros para o Oriente Médio, seja de médio-orientais para o Brasil – quanto culturalmente – com discursos e práticas compartilhados nas artes, na cultura, política e religião. Um exemplo dessas conexões é o número cada vez maior de conversões para o islamismo na América Latina.

O objetivo de Diáspora é revelar os diversos pontos de conexão entre os mundos. Acreditamos que o encurtamento de distâncias proporcionado pela internet permita  uma leitura mais plural, para além de esteriótipos. Uma revista sobre o Oriente Médio e o Norte da África, em português e acessível digitalmente, deve ajudar na desconstrução de visões homogêneas sobre um mundo imaginado, e na construção de um novo imaginário cheio de complexidades e nuances.

Enfatizamos, ainda, a necessidade de o Oriente Médio deixar de significar somente petróleo, guerras, terrorismo e opressões para significar desejos, potências, individualidades e alegria. Afinal, são sociedades formadas por religiosos, seculares, progressistas, conservadores, muçulmanos – sunitas, xiitas ou sufis -, cristãos, judeus, bahá’is, budistas,yoguis, artistas plásticos, músicos, engenheiros, taxistas, professores, escritores, e outra infinidade de profissionais. Todos estes, são ainda mães, avós, netos, filhos, colegas de escola e vizinhos (daqueles inclusive a quem se pede uma xícara de açúcar).

Nessa primeira edição, nos aprofundamos no tema dos refugiados sírios.

Para que se tenha uma noção maior do conflito, a edição inicia com um panorama do que acontece na região (pág. tal), as configurações do problema na Síria e seus desdobramentos (pág. tal), como a grave crise dos refugiados e a formação de grupos de oposição(pág. tal), incluindo o Estado Islâmico(pág. tal). Somado a isso, apresenta  algumas reflexões relativas a esse grupo e os efeitos dos seus ataques em toda a região e, inclusive, na Europa.

Posteriormente, a experiência de Tammam Azzam,artista sírio  internacionalmente conhecido, e da opinião de especialistas na região, buscamos dar uma visão plural da situação dos refugiados no mundo e mostrar, a partir de diferentes viéses, como esses indivíduos deslocados vivem, sobretudo, nos países vizinhos, como a Turquia, o Líbano e os Emirados Árabes.

Trazemos também uma pequena amostra  do cotidiano desses refugiados no Brasil e revelamos algumas das motivações que os guiaram a esse país. Assim, desejamos revelar uma realidade que nos é tão próxima e vislumbrar outras formas de agir diante dessa situação: com compreensão, empatia e apoio.

Que as leituras dessa revista nos aproximem.

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Sobre a autora:

 

É antropóloga, coeditora da Revista Diáspora e pesquisadora do NEOM/UFF.

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