Débora Castiglione traz à tona as diversas experiências de perda e reconstrução entre residentes do campo de refugiados Softex, na Grécia

Crossroads é um projeto fotográfico que documenta a crise humanitária na Grécia a partir da perspectiva de quem a vive e, ao mesmo tempo, a partir de perspectivas diversas. Seu objetivo é dar voz aos envolvidos, permitindo-lhes contar a sua própria história.

O projeto começou em 2016 como uma oficina de fotografia em Tessalônica, no norte da Grécia, juntando residentes do campo de refugiados de Softex e residentes da cidade. O objetivo era treinar e empoderar novos fotógrafos, ao dar-lhes um espaço onde pudessem refletir e se expressar. Os 12 fotógrafos, com idades entre 20 e 34 anos, são originários de 4 países diferentes: Síria, Grécia, Turquia e França.

O grupo trabalhou em conjunto durante 6 meses, dos quais alguns dias foram dedicados a aulas teóricas sobre fotografia, em espaço cedido pela universidade local, e outros foram dedicados ao trabalho prático no campo. O grupo experimentou com imagens em estilo documental, mas também com trabalhos conceituais, que mostram uma visão de si mesmos e dos seus processos de construção identitária. Em conjunto, completaram as fotografias conceituais e trouxeram à tona as ideias de cada indivíduo.

O resultado é uma seleção de imagens que oferece uma perspectiva ímpar de uma situação exaustivamente reportada por meios de comunicação ao redor do mundo, embora frequentemente de forma superficial. Com o contraste dos pontos de vista de seus protagonistas, o projeto mostra a situação de forma complexa e diversa, com foco no campo de Softex, navegando desde os aspectos da vida diária, o ordenamento do espaço, até a tolerância e resistência ao rigoroso inverno de 2016-17, o mais frio que a Grécia experimentou nos últimos 50 anos.

No momento em que publicamos a série Crossroads, o campo de Softex se encontra em processo de desmonte, em meio a uma atmosfera de incertezas sobre o futuro dos seus residentes. Alguns foram transferidos para apartamentos financiados pelas Nações Unidas, nos arredores de Tessalônica, mas há indícios de que muitos não terão o mesmo destino e ficarão sem alojamento. Há motivos para temer, ainda, que vários desses residentes do campo de Softex acabem nas prisões: a falta de documentos regularizados os torna ainda mais vulneráveis. Essa situação pode ocorrer ou porque chegaram à cidade contrariando restrições geográficas quanto à sua saída das ilhas Gregas, ou porque vêm de países para os quais os procedimentos de pedido de asilo são ainda mais difíceis, tais como Argélia e Marrocos.

Esta série fotográfica foi exibida em Tessalônica, Copenhagen e Viena e, em breve, passará também por Dubai, Izmir e Barcelona. Além de sua publicação pela Diáspora, a série será publicada também em Londres.

SOBRE A AUTORA:

Débora de Pina Castiglione é formada em Sociologia, com mestrado em Estudos Históricos pela Universidade de Barcelona. Atualmente, vive na Grécia, onde atua como ativista em Tessalônica.
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